Eu fico tão, mas tão feliz quando assisto um filme tipo Farming que só confirma que o meu amor pelo cinema é o mais acertado possível.
Digo isso porque o filme conta a história bizarra de um esquema que foi comum na Inglaterra nas décadas de 1960/80, onde famílias nigerianas pagavam famílias inglesas para criarem seus filhos, como se as crianças fossem para fazendas (farms) de cria, o farming do tíltulo.
Vou repetir: famílias nigerianas pagavam famílias inglesas para criarem seus filhos.
Como o filme mostra, o menino Eni, tímido, com cara de amedrontado, vive em uma casa cheia de outras crianças nigerianas, todas “cuidadas” por uma mãe que só quer, obviamente, o dinheiro que as famílias pagam e ainda tenta conseguir mais dinheiro do governo para “dar uma vida mais digna a essas crianças todas”, o que na real significa poder gastar com ela mesma e em suas jogatinas.
Só isso já daria um belo de um filme, ainda mais com a Kate Beckinsale ótima no papel da mãe suburbana.
O negócio é que Farming conta a história de como Eni cresce, sempre sofrendo bullying por ser negro, apanhando da molecada, fugindo dos skinheads da sua rua, já que mora na periferia e convive com isso tudo praticamente em casa.
Mas ao invés dele se rebelar com tudo isso, seu sonho é ser branco, é ser aceito, é não ouvir piadas sobre a cor da sua pele.
Quando é mais novo, Eni passa talco no rosto e vai pra escola. Mas quando cresce, ele percebe que não só quer ser branco como também odeia negros, que seriam a causa dele não ser aceito.
E o que ele faz?
Da forma mais degradante possível ele se junta aos skinheads da sua rua. E acaba virando meio que o animalzinho de estimação dos lixos humanos.
Ah, esqueci de avisar que obviamente Farming é baseado em uma história real.
Eni existiu (ainda existe), virou mesmo skinhead, usava Dr Martens, Fred Perry e raspava a cabeça, tudo para se enturmar.
E continuava sofrendo o mesmo bullying, as mesmas ameaças e os mesmos xingamentos, só que agora de seus “amigos”. E também de outros grupos de skinheads não tão amigos.
Aos 16 anos de idade, o menino tímido, que adorava desenhar, se revolta de vez e tatua nas mãos o pior dos xingamentos que ele levava o tempo todo e usa como bandeira.
Essa história absurda seria o suficiente para que Farming fosse um acontecimento por si só, mas o filme do talentoso diretor Adewale Akinnuoye-Agbaje tem um grande problema: o roteiro.
Tudo é muito superficial. A história nos é entregue como se fôssemos espectadores de 12 anos de idade em uma aula de Moral e Cívica.
Nada é aprofundado como deveria, Eni é o personagem mais bizarro possível e a gente nunca sabe seus porquês.
Nem a mãe, que tem uma importância pivotal no filme, nem ela responde questões que vão surgindo pelo filme.
Fiquei pensando que o problema poderia ser de edição, onde o tempo foi se alongando e cenas precisaram ter sido excluídas, mas não, apesar de isso acontecer.
O problema mesmo é o da rapidez e da superficialidade da história, onde deram mais importância a uma cobra roubada que ao evento da virada filosófica do africano perdido.
Mesmo assim o filme, como disse lá acima, é meio que obrigatório para sabermos de uma história que de outra forma, não teríamos aqui abaixo do Equador, a menor noção de que isso já tenha sido uma moda lá pelas terras de Albion.
NOTA: 1/2