Eu não poderia terminar mais um ano de 1 filme por dia, de #alertafilmão, de muita discussão se não fosse com um horror, indie, baratíssimo e muito bom.
Sweetheart é tudo isso.
Vou descrever o filme e você vai perceber que parece um amontoado de clichês: uma jovem chega a uma praia pelo mar, como se tivesse se salvado de um acidente de barco ou de avião, sem saber onde está, com cara de quem não sabe nem o que aconteceu.
Perto ela encontra um amigo deitado na praia, só que em piores condições e enquanto ela procura água para ajudá-lo, ele já morre.
E Jenn fica sozinha nessa ilha onde começa encontrar malas vindas de seu barco e roupas e um acampamento de uma família que já esteve pela ilha e que deixou tudo para trás.
Jenn começa a tentar pensar no que deve fazer, acha um sinalizador, prepara uma tenda para dormir e quando a noite chega, ela olhando para o mar pensando na morte da bezerra, vê uma luz vermelha intensa abrir um buraco no oceano e dele sair um monstro que vem direto para a praia em sua direção.
E que monstro!
Bem trash, né?
O filme é exatamente isso, quer dizer, os primeiros 15 minutos de filme são assim, mas Sweetheart é tão bem escrito e tão bem dirigido que mais parece que o diretor J.D. Dillard tem sei lá quantos anos de idade e vem fazendo filmes inspirados em dramas europeus a vida inteira.
Mas Dillard tem 30 e poucos anos e Sweetheart é só seu terceiro filme e o primeiro relevante.
Sweetheart é a síntese do que de melhor temos visto em horror nos últimos anos, filmes não muito caros produzidos por produtoras de gênero com a A24 e a Blumhouse, que produz este Sweetheart.
Filmes com roteiros muito bem escritos, muito bem desenvolvidos, sem caricatices e sem sangue em excesso, o que não seria de todo ruim, mas acho que estamos numa fase de contenção sanguínea.
Sweetheart é tão bom que até comentário social tem no filme. E de forma aterrorizante. Se o diretor quisesse ter seguido essa linha, teríamos uma outra pérola, porque o roteiro permitiria facilmente.
Eu acredito que a próxima década será a década do cinema de gênero, dos filmes com roteiros geniais, com diretores que não precisam aparecer e que não precisam por isso ter apartamentos milionários em Manhatan ou na orla de Copacabana pra pagar e que por isso abrem a mão de suas liberdade criativa em detrimento dos seus projetos.
Fora que não tem porque gastar mais centenas de milhões de dólares em um filme de gente de capa voando e matando monstros que são mais interessantes que esses bilionários deprimidos que lutam contra o mal.
Sweetheart é o oposto desse cinema rico, é o filme onde a heroína é toda errada, onde o monstro mata porque tem fome, onde a praia e a ilha onde se passa a história não tem um resort na outra ponta.
Sweetheart não tem reviravolta de roteiro, chega de plot twist, chega de escritor espertão querendo aparecer.
O filme bom geralmente é aquele que a gente só percebe que acabou quando acaba mesmo, aquele que a gente nem pensa enquanto assiste, nem se dá conta que 90 minutos se passaram de tão felizes e inseridos naquele universo estivemos.
NOTA: