René Zellweger!
Renée.
Zellweger.
Renée, para quem ainda não sabe, interpreta Judy Garland neste Judy: Muito Além do Arco-Íris em sua última tentativa de respiro no mundo do show bizz, aos 47 anos, em Londres, fazendo shows em uma famosa casa noturna depois de todos os altos e baixos de sua vida.
Vou escrever melhor: Renée revive Judy. Renée reinventa Judy. Renée traz Judy de volta à vida em uma das atuações mais fantasmagóricas (no melhor sentido) dos últimos anos.
A gente não enxerga a Bridget Jones, nem a atriz que ano passado apareceu com a cara tomada pelo botox. A gente acredita piamente que está vendo a Deusa do cinema Judy Garland, a Dorothy, a mãe da Liza, a cantora fenomenal, a galinha dos ovos de ouro do FDP Louis B. Mayer que entupiu a garota de pílulas para que ela não comesse nem dormisse e fosse a Dorothy perfeita para seu Mágico de Oz.
E Judy nunca mais dormiu nem comeu, como o filme deixa bem claro. E esse é o tipo de detalhe que acaba com a carreira de qualquer um.
O filme se passa em 1969, em Londres, quando Judy aceita esse trabalho de shows diários mesmo que a tenha levado para longe de seus filhos pequenos, já que em Los Angeles ela não tinha aonde morar com os 2, vivia de fazer aparições estúpidas em showzinhos por uns trocados.
Tudo pela família, como ela mesma diz.
O que ela não esperava é que seu sucesso, mais uma vez, estaria totalmente atado aos seus vícios, em drogas, bebida, remédios. E maridos.
Entra em cena Renée.
Pra mim, Renée sempre teve jeito de mulherão, de ser grandona, com seus olhinhos fechadinhos mas espevitada, apesar da voz também pequena.
Judy era o oposto, uma mulher pequena, frágil, com vozeirão, enérgica e doidona. Bem doidona.
Renée consegue mostrar que ela nasceu pra ser essa Judy.
O filme é um pouco longo e o roteiro um pouco perdido, principalmente com alguns personagens interessantes que acabam sumindo.
Mas o tempo de tela de Renée é impagável.
Judy demora pra “pegar”, o início em Los Angeles, pra mim é inútil, daria pra ser mostrado em flashbacks, porque é em Londres que tudo se incendeia.
Por falar em flashbacks, os que vemos são de cortar o coração, da menina sendo drogada e proibida de comer, do poder que Louis B. tinha por ela e até a insinuação de abusos bem mais sérios, Judy sofre e me fez sofrer.
Mas voltemos a Renée. Zellweger. Que atriz. Que voz. Ela canta todas as músicas do filme. E se nnao tem o vozeirão de La Garland, tem todo o resto.
Judy nos mostra uma Diva, uma Deusa vivendo o martírio na Terra. Se um dia alguém pensou em fazer um filme para acabar com a aura de super estrelas, essa seria a história a ser contada.
A atriz de um dos filmes mais icônicos da história não ter onde morar, nem dinheiro pra dar comida para seus filhos, nem poder resolver nada de sua vida sem tomar sua vodka, ou seus comprimidos, ou um xarope mais forte, é de nos jogar na sarjeta junto com ela.
Judy só não é melhor porque o roteiro e a direção são completamente burocráticos, apesar de todas as “verdades” mostradas no filme.
Se não fosse por Renée e sua inspiração transcedental, o filme passaria despercebido, como outras tentativas de cinebiografia já tentadas.
Minha única pergunta é: será que Renée ganha o Oscar por esse feito? E será que, se ela ganhar, teremos mais e mais cinebios focadas em Oscar de atuação e só? Porque quer queiram, quer não, Judy existe para colocar Renée Zellweger em seu devido lugar.
NOTA: 1/2