Vamos começar do começo: As Golpistas, o filme da Jennifer Lopez das strippers golpistas, é muito legal.
E é o tipo de filme bom por ter sido escrito e dirigido por uma mulher, Lorene Scafaria.
Pelas quase 2 horas de filme a gente enxerga como uma mulher contando uma história de mulheres faz diferença.
Vou reescrever.
Pelas quase 2 horas de filme a gente enxerga como uma mulher de visão e de opinião, contando uma história de mulheres faz diferença.
Os filmes sobre mulheres mais bacanas do ano pra mim, Midsommar, As Loucuras de Rose e Rosie, foram dirigidos por homens, por um certo acaso.
Alguns grandes filmes de mulheres dos últimos anos foram dirigidos por mulheres, como Mulher Maravilha e Lady Bird.
Como As Golpistas, esses últimos fazem diferença. O foco do filme acaba sendo nas personagens femininas com um viés feminino escancarado.
Fico imaginando se As Golpistas fosse dirigido por um cara. A visão masculina sobre strippers, a visão sexualizada e iconoclasta é totalmente diferente da feminina.
O filme é baseado em uma história real de strippers de Nova Iorque que inventaram um golpe milionário para dar em clientes.
Quer dizer, não inventaram o golpe em si, elas aperfeiçoaram e elevaram o “boa noite cinderela” a níveis nunca dantes vistos por lá.
Isso 15, 20 anos atrás, antes do crash de 2008, quando os caras de Wall Street ainda tinham muito dinheiro e ostentavam descaradamente.
Constance Wu, a diva de Fresh Off The Boat, faz uma stripper nova, aprendendo ainda o ofício, que se junta a uma Jennifer Lopez super experiente e juntas vão aperfeiçoando a história de dopar os clientes sem que eles percam total a consciência e assim conseguem suas senhas de cartão de crédito e limpam suas contas enquanto semi apagados.
Em seu favor está o fato que esses homens, muitos casados e com reputação a zelar, não vão reclamar de dinheiro “perdido” em uma noitada com strippers.
E assim as 2 e mais as colegas que topam vão fazendo a limpa nos caras e gastando como querem do outro lado.
A ostentação de um acaba pagando pela ostentação das outras.
E elas ainda tem uma filosofia para se justificarem onde dizem que esses caras de Wall Street são sacanas, roubam descaradamente de seus clientes. Então elas seriam um tipo de Robin Hood do pole dance, só que o dinheiro ficam com elas mesmas, que são pobres.
O mais legal do filme é a força que essa mulherada tem nas boates e nos palcos, em seus trajes sumários maravilhosos.
A primeira cena da Jennifer Lopez se acabando como uma Deusa do pole dance ao som de Criminal da Fiona Apple é o indicativo de que ela vai mandar bem no filme. E não dá outra.
Guardem minhas palavras: ela vai ser lindamente indicada ao Oscar de atriz coadjuvante. E se bobear ainda leva.
As outras 2 coisas lindas do filme.
O elenco, além das 2, tem a surpreendente Lili Reinhart (de Riverdale), Cardi B, Lizzo, Kiki Palmer e Julia Stiles num papel tão contido que quase passa despercebida.
A trilha do filme talvez seja a melhor do ano em questão de escalação musical. O filme começa com Janet Jackson e além da Fiona que já disse tem New Order, LCD Soundsystem, Britney, Lorde, Big Sean. O filme não tem trilha original, as músicas ajudam e muito a contar a história, todas absurdamente bem usadas. (só queria saber quanto gastaram com essa trilha, porque é de babar).
O único homem do filme que seja relevante, que eu me lembre é o Usher, que faz uma aparição como ele mesmo, indo ao strip club e jogando dinheiro pro alto. Bem como esses pop stars milionários devem fazer.
E o mais legal é que a personagem da J-Lo faz uma piada ótima com o Usher, mostrando todo o bom humor do filme, apesar do tema pesado.
A roteirista Scafaria chegou a um ponto de precisão de roteiro que não tem nenhuma cena que eu dissesse “ah, essa não precisava”. E a diretora Scafaria soube usar muito bem desse roteiro para não deixar nenhuma sobra, nenhuma barriga no filme. Tudo é muito bem costurado.
O único defeito de As Golpistas, depois de todos esses elogios, é esse monte de elogio mesmo, essa perfeição toda.
O filme é tão bem pensado, bem dirigido, bem resolvido, que faltou pra mim um pouco de alma, de calor; tudo é frio e calculado demais.
Tomara que depois desse, venham mais e mais filmes de mulheres, por mulheres, para mulheres, porque precisamos e muito.
NOTA: