A mãe do Sócrates começa o filme morta. Na casa deles. Acabou de morrer.
O moleque de 15 anos de idade, negro, pobre e gay, vai ter que se virar como pode pra sobreviver.
Seu pai sumiu, ou melhor, ele e a mãe sumiram do pai quando ele descobriu que tinha filho viado.
A mãe era faxineira e Sócrates não vai conseguir pagar o próximo aluguel porque mãe morta não recebe salário.
E filho “de menor” não pode trabalhar.
Os bicos que ele arruma mal dá pra ele comer.
Ninguém quer o Sócrates, ele já é grande o suficiente pra… Pra que mesmo?
A câmera do diretor Alexandre Moratto na cara do Sócrates, acompanhando o moleque pra cima e pra baixo, na mão, tremendo, correndo, nos coloca tão presentes no drama do adolescente que mora na periferia de Santos e que se almoça, não tem dinheiro “pra janta”, daí ele prefere não comer e bebe até cair.
O Sócrates é tão fudido na vida que não pode nem pegar as cinzas da mãe. Porque é “de menor” e quem tem que pegar é o pai, que não sabe onde eles estão, muito menos que a mãe tá morta.
Mas Sócrates tenta, trampa, bebe, beija, cai, levanta, chora muito, grita outro tanto, cai de novo, acorda e vomita.
Sócrates tá sendo mais reconhecido na gringa que por aqui, levou até uma indicação lindíssima ao Independent Spirit Award de melhor ator pro ótimo Christian Malheiros ( de Sintonia, da Netflix) e seu diretor foi condecorado como de “Promessa”, na mesma premiação.
Sócrates é um sobrevivente de todo dia, de uma dia depois do outro, sobrevivente só por hoje e ele nem é viciado em nada. Ou se pensarmos bem, Sócrates acaba viciado em resistir, em tentar abrir os olhos depois de uma noite pessimamente dormida.
Que bom que o cinema brasileiro é foda e que Sócrates tá aí, vivinho da Silva.
NOTA: