Lá em 1990 e pouco quando eu assisti Twin Peaks, logo pensei que seu criador David Lynch alguma hora viria a público revelar seu amor e admiração a Agnès Varda e agradecê-la e dar parte dos royalties da série por ter “pego emprestado” a “inspiração” da jovem morta e da investigação que se segue do clássico francês Sans Toit Ni Loi, Os Renegados em português.
Nem Lynch nem ninguém nunca falou dessa inspiração mas deixo aqui documentada minha indignação pelo desprezo geral com a maior diretora da história do cinema, a mulher que inventou a Nouvelle Vague e que nunca foi creditada por isso, afinal, valia mais a pena falar que a onda nova francesa veio dos críticos da revista Cahiers du Cinema.
Agnès morreu esse ano, depois de nos brindar com um de seus melhores filme da carreira e um dos meus preferidos de 2018, o maravilhoso documentário Visages Villages.
Quem diria que aquele não seria seu canto do cisne, mas sim Varda Por Agnès, um absurdo de aula magna sobre uma das maiores carreiras da história do cinema, contada pela própria Agnès, sobre a grande Varda, de uma forma como só ela mesma poderia contar.
Inclusive, uma das sequências mais lindas do filme é quando Agnès se encontra com a estrela de Os Renegados, a maravilhosa Sandrine Bonnaire, que nos revela como Varda a dirigiu 35 anos antes, dando dicas da genialidade da diretora em pequenos detalhes.
Hoje em dia uma das coisas que mais me irrita é o povo vendendo Master Class de um bando de Zé Ninguém sobre os mais variados assuntos, os piores sempre ligados a coaching, obviamente.
O que não entendo é como esse povo tem a cara de pau de falar em Master Class depois de lançadas as do Lynch, do Scorcese, do Herzog, Gaiman, só pra citar algumas dos meus Deuses.
Mas Varda Por Agnès acaba sendo a Mais Master das Classes, já que Varda não só conta suas histórias, nos mostra seus filmes e nos explica como chegou em alguns dos personagens mais icônicos da história do documentário.
Agnès, a mulher do cabelo de cuia (tá bom, do corte chanel) desde sempre, da pequena monstra, da criadora de mundos, que sabia exatamente onde colocar a câmera para contar as melhores histórias e sabia exatamente como ter colaboradores absurdos em seus filmes, principalmente para as trilhas, abre seu coração, sua alma de artista e nos entrega de mãos beijadas o que sabe fazer como quase ninguém.
Varda Por Agnès só não me fez chorar mais porque a obra de Varda supera a minha insignificância de uma forma imensurável e a saudade que vou ter de seus novos filmes vai ser superada sempre por uma revisitada a o seu enorme catálogo de preciosidades.
Obrigado Agnès, obrigado Mme. Varda, devo muito a você.
NOTA: