Netflix, faz tempo que não te agradeço e aqui estou eu de joelhos beijando seus pés pelo filme novo do Eddie Murphy.
Meu Nome é Dolemite é um absurdo de engraçado, com uma história bem doida, meio parecida com a do filme do James Franco daquele ator uó, O Artista do Desastre.
Dolemite é o personagem do comediante americano Rudy Ray Moore, que nos anos 1970 tentou de tudo para ser famoso e conseguiu com o personagem de um cafetão desbocado cheio de histórias “raiz”.
Se eu fosse fazer um paralelo brasileiro, diria que Dolemite seria uma mistura de Didi Mocó com o Costinha em seus áureos tempos desbocados, cheio de piadas de duplo sentido para não ser gongado pela censura da ditadura.
Como no caso de Franco, Murphy sempre foi obcecado por Rudy Ray Moore, quem conheceu tempos atrás e com quem tentou inclusive trabalhar junto.
O filme conta a história de como Moore teve a ideia de criar o personagem do cafetão e como aos poucos ele foi conseguindo ganhar dinheiro, se tornar relativamente conhecido até que bem modestamente fez o primeiro filme de Dolemite, com o maior esforço de guerrilha cinematográfica possível.
Eu queria entender como um diretor medíocre como Craig Brewer conseguiu parir um filme tão bom, tão redondinho, tão bem dirigido, com 2 atores no melhor de suas carreiras.
Eddie Murphy como o trapalhão Dolemite está sendo super considerado para o Oscar de melhor ator ano que vem. Mas na minha opinião humilde, a aposta certa será em Wesley Snipes, como D’Urville Martin, o ator que saiu de uma posta em O Bebê de Rosemary para dirigir a primeira empreitada cinematográfica de Dolemite.
Snipes vai aos poucos criando o melhor personagem gay do ano, de uma bicha que se considera discreta e vive rodeada de “namoradas” ao diretor que arrasa no set com seu figurino impecável e suas tiradas espirituosas. Só faltou jogar cabelo.
Mas Eddie. Ah, Eddie Murphy, por que tanto tempo afastado dos filmes?
Dolemite é tão bom, tão engraçado e tão bizarro ao mesmo tempo que eu não acreditava que o filme iria pelo caminho que foi.
Surpreendente é pouco.
Moore, quando vai fazendo sucesso com seus shows de stand up e seus discos proibidos, junta sua gangue, seu exército de Brancaleone para montar uma produtora e fazer um filme sério sobre Dolemite, o cafetão sexy, grosseiro, que luta kung fu, que fala palavrão, esperto, que as mulheres amam.
Obviamente o filme vira uma comédia. De sucesso. E Moore e sua trupe não se deixam abalar e seguem em frente.
O roteiro do filme é tão bem escrito e tão bem construído que faz o filme ser ainda maior do que ele é na verdade. Dolemite acaba sendo um filmão e não só o próximo filme do Eddie Murphy, o que é uma grande coisa dado o tamanho do astro.
Só espero que Dolemite, a carta de amor de Murphy a um de seus ídolos, o demova da ideia da tão falada aposentadoria.
Esse cara, nesse nível de genialidade artística, não pode largar tudo. Seria um crime contra a humanidade.
NOTA: 1/2