Existem ainda alguns temas bem polêmicos, mesmo pro cinema e os alemães sempre fazem questão de quebrar essas barreiras.
Pedofilia é um desses temas, talvez o mais controverso de todos.
Head Burst é um filme sobre um pedófilo.
Diferente de alguns filmes sobre o mesmo tema, o filme alemão é o primeiro sobre um pedófilo, conta a história do cara, de como ele age, como se sente, da vergonha, da vontade, da doença.
Eu fiquei bem incomodado durante toda a exibição do filme (não só porque assisti no MIS, a pior sala de cinema de São Paulo).
O foda é que Head Burst é um filme bem bom, com um roteiro redondinho, muito bem dirigido e com um personagem bem complexo (como era de se esperar) que ganha vida pelo ótimo (e bonitão) Max Riemelt, o loirão de Sense8.
Markus é um arquiteto bem sucedido, bonito, se veste bem, com um apartamento impecável, nada todos os dias, come bem, tem uma família ótima mas é a pior espécie de ser humano, um pedófilo.
O personagem passa boa parte do filme se masturbando com fotos de crianças que ele mesmo tira escondido, quando vai nadar na piscina pública, por exemplo, ou em parques.
Mas também fica excitado com filmes na tv, com meninos que entram no mesmo ônibus que ele, com o sobrinho que faz aniversário e lhe dá um abraço apertado porque ganhou o presente que ele tanto queria.
E lá vai Markus pro banheiro, primeiro se aliviar e depois chorar.
Head Burst conta esse dia a dia do predador da pior espécie, o que vai atrás de seres indefesos, que é doente, muito doente e que tenta como pode, o personagem do filme, pelo menos tenta, se segurar.
Ele diz em um momento do filme que nunca fez nada com uma criança, que nunca teve coragem. Mas você acredita nisso? Eu não.
Uma das rotinas de Markus é ir ao parque e ficar observando um lobo enjaulado, outro predador que ali está também sozinho e sem poder satisfazer suas vontades primais.
A metáfora é meio óbvia demais e na minha opinião é o que estraga um pouco o filme.
Por causa disso tudo, vem o paradoxo: como dá pra gostar e elogiar um filme sobre um pedófilo?
O bom de Head Burst é que o diretor Savas Ceviz não julga seu personagem em momento algum. Mas esse também é o problema do filme, porque há quem possa dizer que o filme possa humanizar o pedófilo, o que seria o pior dos mundos.
Meu elogio maior vai para Max Riemelt, que se entrega de corpo e alma ao papel mais polêmico da Mostra de São Paulo de 2019, do pedófilo que pode ser nosso vizinho bacana e a gente não ter a menor ideia.
NOTA: