A Maratona de Brittany é aquele indie americano que você começa a assistir e pensa “ih, lá vem mais um amontoado de clichês que eu já sei como vão terminar”.
A sorte é que eu sou teimoso e por muitas vezes pago a minha língua, ou no caso, meus pensamentos bestas.
O filme conta a história de Brittany, uma mulher nos seus quase 30 anos, sem perspectiva nenhuma na vida, gorda, baladeira ao extremo, com um emprego porcaria, falida, com uma melhor amiga que é seu oposto e que a leva pra baixo o tempo inteiro.
Em uma visita ao médico, ele explica que se ela não mudar seus hábitos radicalmente, vai ter problemas muito sérios muito rápido.
Aos poucos ela vai parando de beber, de se drogar, começa a comer melhor e o mais difícil: como ela não tem dinheiro para entrar em uma academia, começa a correr na rua. Em princípio sozinha e logo entra para um grupo de corredores amadores.
Olha lá, o amontoado de clichês que falei lá no início.
Só que o filme tem um detalhe: Brittany, a personagem principal, é engraçada, gente boa, mas é uma escrotinha.
E o legal é que aos poucos vamos descobrindo o que a fez assim, porque ela é fechada, sarcástica, não acredita no amor, não aceita ajuda de ninguém.
Tudo isso culpa de um roteiro muito bem escrito e estruturado, com uma personagem multi facetada que vimos pouco no cinema esse ano. As melhores são as extremas de filmes de terror, mas Brittany é a heroína de uma comédia romântica, o que não daria muita margem para arroubos de criatividade.
Ledo engano.
O roteirista e diretor Paul Downs Colaizzo é bom demais. Ele não só conseguiu dar nó em pingo d’água na melhor comédia romântica possível, como conseguiu criar personagens que são a cara de 2019 com a maior diversidade possível sem nada parecer forçado.
E o elenco, encabeçado pela incrível Jillian Bell é de cair o queixo. Não tem ninguém no filme que não seja muito bom. Até os personagens com 2 linhas de texto tem 2 ótimas linhas de texto.
Brittany é escrota mas é fofa, o que é ótima pra personagem. E a gente sabe o quanto é difícil torcer, em pleno fim do mundo que está 2019, por uma personagem escrotinha.
O segredo: a recriação da fórmula desse tipo de cinema por Colaizzo.
NOTA: 1/2