E eu achando que Luz seria o filme droguinha de 2019. Tolinho.
Minhas queridas e meus queridos, assistam Bliss, o filme mais doido, mais drogado, mais epilético, mais barulhento e mais sangrento do ano. A pior bad trip de 2019.
Ouso dizer que Bliss é o Mandy de 2019.
Aliás, a partir de agora vou eleger sempre o Mandy do ano, sempre procurando um filme cheio de drogas e violência e sangue e vermelhos e barulhos.
Bliss é o nome de uma droga bizarra, um pó preto de cheirar, que segundo o cara que vende, um gigantinho, diz que um teco é o suficiente pra sair do corpo, que Bliss é uma mistura muito forte de cocaína com DMT.
Quer dizer, é o treco pra manter distância pra nós meros mortais.
Mas não é o caso de Dezzy, uma artista fodona, que vive em Los Angeles e que no momento está em uma encruzilhada criativa, onde deve dinheiro de adiantamento de um trabalho que precisa entregar em menos de uma semana para uma exposição.
Só que nem seu agente e nem a galerista acreditam que ela vá conseguir entregar essa obra e ficam infernizando sua vida, ela cobrando o prazo e o agente despedindo Dezzy de sua carteira de clientes.
Desesperada, a fofa faz o quê? Adivinhou, vai atrás de alguma coisa para animá-la e quando menos percebe, está em uma boate bem malucona se jogando muito com uma amiga mais animada que ela, pra quem a tal bomba que é Bliss parece não fazer o estrago esperado.
O que Dezzy não esperava é que não só bliss é mais potente, para o bem e para o mal, do que ela achava que aguentaria, mas sua amiga (e eventual namoradinha) Courtney, bem louca de bliss começa a estraçalhar as jugulares de uns incautos e bebe seu sangue, para aí sim ficar bem doida.
E claro, Courtney faz o favor de alimentar Dezzy, como uma mãe águia dando comidinha, no caso sanguinho, na boca de sua cria.
Ou melhor, a mãe vampira e sua cria vampirinha.
E a artista volta para seu ateliê, mais louca que nunca, se debruça em tela inacabada e quando acorda no outro dia vê a evolução que teve mesmo sem se lembrar de muito.
Em Bliss a gente enxerga o êxtase do sangue e das drogas através da pior descida aos infernos.
Bliss não é desses filmes que tenham um roteiro super intrincado, cheio de relações, revelações e reviravoltas.
Como todo bom filme droguinha, Bliss é doido por si só e sua história, por mais absurda que seja, indo do drama psicológico ao terror do dia a dia, se no seu dia a dia você tivesse uma amiga ou uma cliente que por acaso virasse uma sugadora de sangue de uma hora pra outra.
Bliss, como Mandy, é o tipo de filme onde seu diretor, no caso meu mais novo crush cinematográfico Joe Begos, mostra a que veio com suas imagens, seus personagens extremos, sua trilha barulhenta, sua luz vermelha, suas telas vermelhas e seu sangue vermelho.
Lembra daquela fotografia linda de Moonlight, onde cada cômodo tem uma cor, onde cada cômodo parece ser banhado por cada cor, onde os caras saem da sala azul para o corredor vermelho?
Aquela fotografia que ficou tão na moda, que tem em uma pancada de comerciais horrorosos, que até o Woody Allen tentou copiar em seu filme horroroso da roda gigante?
Mandy e Bliss, aqui pelas mãos de Begos, elevaram essa experiência visual a outros níveis, tirando toda a sutileza e a harmonia que as cores vindas das obras de Carlos Cruz-Diez e jogaram na nossa cara o vermelho como personagens desses filmes.
Bliss é uma experiência extrema que funciona perfeitamente.
E vou tomar outra liberdade e dizer que Bliss seria quase que um filhote de um sexo bizarro entre Mandy e Climax. No pior sentido possível.
Sempre que falo desses filmes mais radicais eu falo de descida espiral aos mais profundos recantos da alma de seus personagens e em Bliss não é diferente.
Dezzy se joga como alguém apaixonada por sua obra ou talvez apaixonada pela forma que descobriu existir para tornar sua obra o que ela sempre deveria ter sido.
Faz dias que assisti esse filme e cada vez tenho mais certeza que não tem ninguém melhor para ter vivido Dezzy que a maravilhosa Dora Madison Burge que eu não conhecia mas que não quero mais que saia de perto.
Que atriz, que potência. Em épocas de Coringa onde falamos em entrega para o personagem, Dora mostra aqui a que veio, que ela está pronta pra mais e melhores papéis. E se rolou essa Dezzy desta forma, que venham personagens extremas.
Bliss começa com um aviso que tem muitas cenas que podem causar desconforto epilético. Já viu, né?
NOTA: 1/2