Depois de morrer de amores pelo Coringa não poderia parar de falar de filmes sobre gente estranha.
Buzz é um belo de um documentário, muito bem dirigido, sobre Buzz Bissinger, jornalista americano super renomado, vencedor do Pulitzer, autor do livro Friday Night Lights, de onde saiu a ótima série.
O cara trabalhou por anos na Vanity Fair e ficou conhecido como o jornalista perfeito para conseguir que seus entrevistados se abrissem e revelassem histórias até então inéditas.
Buzz foi escalado para fazer a matéria de capa hoje clássica sobre Caitlyn Jenner por isso tudo mas também por conhecer o então Bruce de muito tempo antes.
O que Buzz não esperava é que durante as entrevistas para a matéria ele finalmente teria encontrado a coragem para também sair do armário e revelar ao mundo que ele, Buzz, era cross dresser e um praticante de BDSM, um escravo, para ser mais específico.
Buzz, o filme, conta a história do Buzz assumindo para o mundo, para sua família toda e para ele mesmo esse seu lado até então não conhecido.
Nessa sua revelação, nesse outing, ele teve a ideia de escrever um livro sobre Caitlyn, queria se aprofundar em sua história e usou isso como uma das formas de contar sua história em paralelo, de novo usando a força dela para se revelar.
Já em seu terceiro casamento e com uma esposa que conhece bem o que ele faz fora de casa, Buzz agora explica a seus filhos adultos, à sua família, porque sempre pintou as unhas, porque sempre teve muita roupa de couro, porque sempre foi muito vaidoso.
Uma das passagens engraçadas do filme é quando um de seus filhos conta que, quando adolescente, foi fuçar os armários do pai buscando revista Playboy e acabou encontrando sua coleção de cuecas de couro e sua ball gag, aquele utensílio que é uma bola vermelha em umas tiras de couro que se usa para calar o escravo em sessões de BDSM.
E o pior é que ele nem podia perguntar pro pai o que era aquilo porque não queria ter sua incursão descoberta.
E para por aí o engraçado do filme.
Buzz é um documentário que desce nos porões mais que secretos de um homem que leva uma vida de desvios, como ele mesmo diz, a quase 50 anos, tentando ser o mais discreto possível para não machucar sua família.
Só com seu terceiro casamento, quando pôde se abrir para uma mulher mais “cabeça aberta”, alguém que teve muita experiência sexual em sua vida, que Buzz relaxou um pouco e diz ter encontrado uma parceira ideal.
Só que ideal pra ele mesmo ele não sendo o ideal pra ela, como ela vai descobrindo à medida que o tempo vai passando.
Buzz faz o que quer, como quer, quando quer, torra dinheiro a rodo, não dá satisfação e quebra o único acordo que tinha com a esposa: não se apaixonar por ninguém.
No início de Buzz, achei que o filme fosse sossegado, sobre o cara que resolve se abrir e assim resolve sua vida. Que nada.
O filme escancara os vícios, o narcisismo, a quase psicopatia do cara de não dar a mínima pra ninguém e fazer o que quiser de sua vida.
Imagino o que tenha sido a vida do jornalista antes disso tudo, o quanto seus vícios privados atrapalharam suas virtudes públicas, para citar um cara aí.
Se você está descomprimindo do Coringa, esse filme da HBO tem uma história extrema mas que aos poucos vai ajudando a voltarmos ao normal.
NOTA: 1/2