The Wolf Hour é o filme mais mal vendido ou promovido dos últimos tempos.
O estúdio vende o filme como sendo a história de uma escritora enfrentando seus demônios quando ela encontra uma força misteriosa.
Que bosta.
The Wolf Hour é um filme punk sobre uma escritora ativista e de sucesso que entra em depressão profunda antes de conseguir lançar seu segundo livro.
E sua depressão é retratada possivelmente numa das melhores formas no cinema.
O filme começa com ela já no fundo do poço, morando em um apartamento no Bronx, um bairro perigosíssimo, em meio a um calor infernal no famoso versão de 1977 onde um assassino está por lá à solta e para piorar, uma onda de desemprego paira sobre as pessoas que fazem de tudo pra conseguir algum dinheirinho, principalmente para drogas.
June, a escritora, não consegue enxergar onde foi parar e como todo mundo em depressão, não consegue de lá sair, não tem forças nem pra se ligar de nada.
(sim, o Spike Lee fez o filme O Verão de Sam que se passa provavelmente na mesma rua que June mora)
O filme mostra muito bem um monte de estágios e percalços pelos quais passa a pessoa com depressão.
Como disse, a negação é o óbvio e mais imediato, é onde a gente vê o apartamento de June parecendo ser um lixão, sem cuidado, sem circulação, sem limpeza.
Depois a dificuldade de lidar com “problemas” do dia a dia, como pagar o aluguel ou pagar a conta do mercado ou mesmo lidar com o entregador de compras do mercado.
Para piorar, ela ainda acha que alguém está tentando fazê-la pirar mais ainda de medo.
Depois a dificuldade em aceitar ajuda de sua melhor amiga, que vai visitá-la pra levar dinheiro, resolve limpar a casa, fica, dorme lá, vê a amiga sorrir um pouco mas quando fala uma coisinha que seja que libere a desgraça do gatilho, June a manda embora aos berros e vota para sua vida de bosta.
Uma coisa que eu achei muito boa o filme mostrar foi como o passado, os dias razoavelmente bons, as memórias interessantes acabam sendo ao mesmo tempo formas de ajuda e que se ela não toma cuidado, vira gatilho e fode com tudo de novo.
Ah, June é vivida pela cada vez melhor Naomi Watts e eu vou confessar, tinha dúvidas do quanto ela levaria esse filme como levou. Ela entrega uma June muito pouco vista no cinema, uma mulher que mesmo estando em seu pior estado físico e mental, consegue tirar forças não se sabe de onde para sobreviver nem que seja só mais um dia.
E não, não é falta de apanhar, falta de dinheiro, falta de rola, falta de nada, a depressão parece uma âncora amarrada aos seus 2 pés, que cada dia que passa vai ficando maior e meia pesada e vai te levando cada vez mais para o fundo, um fundo, o seu fundo.
O filme é claustrofóbico, é desesperador, ainda mais pra alguém que como eu sofre de depressão; me vi o tempo todo em June. Sei que não adianta falar, ninguém entende o que você está passando e ninguém entende o seu tempo, que geralmente chega mas que às vezes pode ser tarde demais.
NOTA: