por Gabriel Correia
Um movimento muito interessante está em curso atualmente na TV paga brasileira. Por força de legislação o número de atrações nacionais na TV a cabo tem aumentado consideravelmente. De reality shows a séries de ficção, por todos os canais não param de estrear novas atrações. Como não poderia deixar de ser, dada a urgência dos canais em cumprir a legislação, a qualidade dos programas tem sido questionada por críticos e telespectadores. Nesse contexto está inserida Copa Hotel, série humorística exibida pela GNT. Em parte pela qualidade estética controversa e pelo enredo confuso, com traços do noir e do nonsense, a série já foi criticada como um equívoco estratégico por parte do canal que lançou simultaneamente três seriados. O que, na opinião deste colunista, configura um erro duplo. O lançamento simultâneo de séries é uma pratica comum, por exemplo, no mercado norte-americano, no qual séries menos propagandeadas recebem uma aposta por parte das emissoras que visam assim atingir vários nichos de audiência e testar quais seriados receberão novas temporadas e quais não. Quantos às críticas a qualidade da série enquanto produto audiovisual mal acabado a discussão pode ser aprofundada. Copa Hotel não tem, de fato, o acabamento técnico que as séries da HBO têm, por exemplo. Locações em estúdio com iluminação e arte precárias contrastam com cenas externas mais realistas, pra se ter uma ideia. Porém, qualidade técnica nunca foi o único parâmetro para avaliação de qualquer filme ou série, e a temática pouco usual no audiovisual brasileiro e o enredo criativo compensam com sobras tais limitações técnicas. Mais até, o diálogo da série com o universo dos filmes b de certa maneira justificam um tratamento estético desleixado e um enredo lacunar. Em Copa Hotel, as desventuras de um protagonista estranho, apático e sem grandes motivações encontram no absurdo ambiente do hotel recebido como herança de um pai quase desconhecido o palco ideal para que todo o patético das situações apresentadas faça algum sentido. Ou repousem no absurdo geral que a série representa, o absurdo da vida.
Coluna publicada originalmente na versão impressa do Jornal Primeira Página de São Carlos em 7 de Junho de 2013.