Na quinta-feira (23/08/2010) o grupo GEMInIS esteve presente no Congresso do SET 2012 – Broadcast & Cable para assistir ao painel de discussões “Transmidia: Experiências em TV”
O pesquisador e membro do grupo EraTransmidia, Rodrigo Dias Arnaut deu inicio ao painel, introduzindo as ideias que seriam debatidas no encontro, como a fragmentação de conteúdos nas mídias em projetos multiplatafomas, transmídia e crossmídia, o papel das redes sociais como importantes peças catalisadoras de comunicação entre o publico e as produtoras de conteúdo, entre outros temas. Rodrigo ainda forneceu alguns dados nacionais elucidativos: “[…] Hoje o Brasil possui 43% da audiência de TV navegando simultaneamente na internet sendo 70% sobre conteúdo de TV, segundo dados do IBOPE de fev/2012. O Brasil em agosto de 2012 está com quase 60 milhões de planos 3G habilitados (Teleco) e quase 10 milhões de smartphones somente nas áreas metropolitanas, segundo o Ibope Nielsen. 35% das TVs vendidas são conectadas e em 2013 90% possuirão interatividade DTVi. No horário nobre os maiores motivos de comentários nas redes sociais estão relacionados ao conteúdo que está sendo transmitido na TV, consequência do comportamento de 86% dos brasileiros que estão nas redes.[…]”.
Estes números apontam para um novo paradigma midiático, caracterizado por um cenário convergente no qual os usuários se encontram conectados simultaneamente em diferentes dispositivos e telas. Este fenômeno reconfigura o papel das empresas de entretenimento, que precisam expandir seu conteúdo em todas estas telas para atender as demandas deste novo público.
Nessa perspectiva, o diretor de projetos digitais da empresa Rede Bandeirantes de Televisão, Edson Kikuchi, enfatizou como esse novo paradigma vem proporcionando uma mudança nas estratégias de distribuição de conteúdo das grandes emissoras de TV aberta do país. Ele ressaltou que é preciso se adequar a esta nova perspectiva de consumo, produzindo conteúdos para múltiplas plataformas que possam atender as demandas de conteúdo cada vez mais específicas destes usuários. Nesse contexto,essas emissoras, que antes produziam um conteúdo mais abrangente em apenas uma mídia, precisam agora passar a explorar os mercados de nicho em múltiplas mídias, como explica Chris Anderson: “Os hits hoje competem com inúmeros mercados de nicho, de qualquer tamanho. E os consumidores exigem cada vez mais opções. A Era do tamanho único está chegando ao fim e em seu lugar está surgindo algo novo, o mercado de variedades” (2006, p. 5).
Kikuchi ressalta, entretanto, que os canais de comunicação brasileiros ainda vivem um período de transição para esse novo paradigma de distribuição de conteúdos, caracterizado por uma produção de forte caráter experimental.
Em seguida, ouvimos a perspectiva de Carlos Melqui da Rede Record, que ressaltou o enfoque da empresa na produção de conteúdos para internet, concentrado no portal R7, que fornece conteúdo extra e mecanismos interativos para os usuários. A emissora, entretanto, ainda não se encontra produzindo conteúdos ficcionais multiplataforma ou transmidiaticos, pois segundo Melqui essas produções ainda são inviáveis do ponto de vista financeiro da empresa.
Para concluir, Carlos mostrou o curta-metragem Sight, realizado por estudantes de graduação da Bezalel Academy of Arts and Design (Jerusalem) que nos apresenta uma perspectiva futurista de interação midiática:
[vimeo http://vimeo.com/46304267]
Já Gustavo Gontijo, coordenador de Novos Formatos da Rede Globo, nos apresentou um panorama sobre as estratégias transmidiaticas produzidas pela Rede Globo de Televisão desde o ano de 2009, até os dias hoje. Observa-se que a empresa está realizando experimentações em relação as suas narrativas ficcionais, como novelas, minisséries, etc. disponibilizando conteúdos narrativos extra em diversos formatos, tais como cenas extras, falsos documentário, blogs e perfis de personagens criados em redes sociais, entre outros. Essas experimentações podem ser apontadas como as tentativas nacionais em tv aberta que se encontram em maior sincronia com o contexto transmidiatico, como aponta Scolari: “Transmidia Storytelling não afeta somente o texto, mas também implica em transformações nos processo de produção e consumo. Pesquisadores e produtores observam novas oportunidades de negócios para o mercado midiático, como as novas gerações de consumidores desenvolvem novas habilidades para lidar com o fluxo de historias e se tornam caçadores de informações de múltiplas fontes.” (Scolari, 2009 p.589).
Pode-se observar também um aumento no grau de complexidade e de experimentação destes conteúdos, quando comparamos a primeira produção transmidiatica da empresa, em 2009 com o blog da personagem ficcional Domingas de Malhação, e a produção mais recente da empresa, na novela Cheias de Charme, em que o videoclipe das “empreguetes”, pertencente ao espaço diegético da novela foi transmitido exclusivamente pela internet. A ação também utilizou-se das redes sociais para divulgação do videoclipe, pois logo após o término do capitulo da novela que dizia que o videoclipe tinha “vazado na internet, o apresentador global Luciano Huck tuitou o link para o hotsite do videoclipe. Essa opção de inserir o vídeo em um hotsite, e não em um site de compartilhamento de vídeos gerou muitos questionamentos na medida em que a ultima opção forneceria maior verossimilhança a esse conteúdo ficcional.
Ouvimos então Carlyle Ávila da emissora paranaense RPC TV, que discorreu sobre as estratégias empregadas por uma emissora afiliada, e, portanto de caráter regional, para a produção de conteúdos multiplataforma em sua programação. Dentre as ações promovidas pela emissora, Carlyle cita o case Oil Man, que se utiliza de uma figura famosa da cidade como protagonista de um documentário, um game online e uma bicicletada, entre outras ações.
Em seguida, Salustiano Fagundes da empresa HXD Interactive Television, especializada na criação de aplicativos interativos multiplataformas, defendeu que, com o desenvolvimento de novas tecnologias, tais como Ginga, Smartphones, Tablets, SmartTV, Games, Web, etc. torna-se necessário o desenvolvimento de novos tipos de conteúdos que possam explorar de maneira mais eficaz as potencialidades destes dispositivos.
O último convidado foi Newton Cannito, autor do livro A Televisão Na era Digital, que discorreu sobre a necessidade de se adotar uma lógica digital de produção de conteúdo, em detrimento de uma lógica analógica que não é mais condizente com a forma de consumo atual. Dentro desta nova lógica, ele defende que as empresas produtoras de conteúdos não capitalizam mais com a mídia e sim com seus conteúdos e propriedades intelectuais, que podem ser vistos como as “marcas” dessas empresas.
Para finalizar, o painel contou com uma transmissão do produtor transmidia da empresa Starlight Runner ,Jeff Gomez, que ressaltou que o Brasil está aderindo a essa nova lógica convergente, citando como exemplo o projeto transmidia Moonflower que está sendo realizado em uma coprodução de sua empresa com a Umana Comunicação, empresa brasileira de comunicação interativa e transmidia. Esse projeto foi inspirado no trabalho da artista plástica Margaret Mee contra a destruição da Amazônia, e visa à produção de um longa metragem de animação, documentário, bibliografia em livro, livro infantil, exposição 3D, série televisiva, histórias em quadrinhos e jogos educativos web e console.