No último sábado (12/12/2011) estivemos presentes no I Fórum Transmídia realizado pelo grupo de estudos Era Transmídia, da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). O evento apresentou alguns cases e análises de produtos transmidiáticos, bem como apresentação de teóricos e pessoas de relevância no universo do transmídia storytelling. Dentre eles, Jeff Gomes, Nuno Bernardo e Robert Pratten. Foi possível observar a visão do marketing e da publicidade em relação às narrativas transmidiáticas.
A seguir alguns temas que foram discutidos:
O Timeu.se é uma plataforma de análise de postagens no Twitter que investiga o que as pessoas postam no microblog e gera gráficos através da combinação dos dados. Através dessas representações infográficas é possível observar tendências sociológicas ou mercadológicas. Por exemplo, o gráfico a seguir mostra que o bacon é mais popular do que as salsichas entre os usuários do Twitter em um determinado período de tempo. Com a tendência das pessoas em exporem suas subjetividades através das redes sociais, o uso do Timeu como mecanismo de comparação entre assuntos e temas pode trazer complemento à análises sociológicas e métricas, ou seja, pode ser útil para pesquisas acadêmicas. Como é focado em um determinado período de tempo, pode ser uma metodologia complementar a pesquisas.
Outro caso interessante mostrado no fórum é o projeto Por que Heloísa?, de Sérgio Lopes. Uma iniciativa que se tornou transmidiática e que tenta promover uma maior inclusão de deficientes físicos à sociedade. O projeto é inspirado em um livro ilustrado escrito por Cristiana Soares, mãe de Heloísa, uma garota de 14 anos que nasceu com paralisia cerebral. Na obra impressa, as imagens e textos mostram como o Brasil ainda está longe da adaptação necessária para a inclusão dos deficientes (físicos e mentais) à sociedade. É importante frisar que 15 % da população brasileira possui alguma deficiência, e trazer um projeto com ramificações em várias plataformas é uma forma interessante de trazer educação à parcela jovem da população, já acostumada com a leitura não linear das narrativas transmidiáticas e as experiências sensoriais dos dispositivos de toque, mídias sociais. Passando para o universo narrativo de Por que Heloísa vemos uma ramificação da narrativa inicial, surgida no livro, para outras plataformas: foram criadas uma série de tv, um documentário, histórias em quadrinhos, peça de teatro, campanhas, um álbum de música, audiolivros, participação e perfis nas redes sociais e uma web série; além de um desenho animado. O desenho animado apresenta as dificuldades da personagem Heloísa, como a ausência de rampas, carros que estacionam em frente às vagas e passagens destinadas aos deficientes e buracos nas ruas de uma forma gameificada. Ou seja, Heloísa vê tais obstáculos como fases de um jogo eletrônico difícil de ser vencido. Mais uma vez , a junção de uma linguagem que lembra a jornada do herói dos games faz com que a geração em desenvolvimento, acostumada com tais dispositivos narrativos, consiga, consicente ou inconscientemente, entender os problemas e as necessidades de mudanças da sociedade e das construções físicas para um melhor acolhimento aos deficientes.
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=2eREqRFLAj8]Em seguida, Sílvia Prado, da Cinema Animadores, apresentou Zica, um projeto de animação que contempla textos, desenhos, animações, grafites, música e design; apresentando através das plataformas a vida de Zica, uma adolescente “descolada” e alternativa e as transições psicológicas e físicas de tal fase da vida. Logo abaixo podemos ver um vídeo da animação:
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=0DV053nX0a8]Nuno Bernardo participou de uma videoconferência – The Producers Guide to Transmedia (O guia de produção transmídia) Alguns tópicos e apontamentos trazidos pelo português foram:
– A transmídia não deve ser encarada como um culto ou dogma
– A transmídia não tem uma estrutura imutável, não há uma lista de coisas a serem feitas que definem o sucesso de um projeto.
– A transmídia não é uma luta contra as atuais mídias estabelecidas.
– A transmídia permite, pela primeira vez, que os produtores se aproximem de suas audiências. (Através das redes sociais, interatividade, os produtores podem ter um contato maior e saber organizar a estrutura narrativa das próximas etapas ou episódios – de uma série por exemplo – de acordo com preferências e sugestões dos fãs.
– A transmídia dá mais poder aos produtores.
– A transmídia responde à demanda do atual estilo de vida de boa parte da audiência: conteúdo em todos os lugares, em qualquer dispositivo.
– A transmídia faz com que o conteúdo seja mais imersivo, faz dele uma experiência social. (Basta ver as discussões e os trending topics no twitter para descobrir que boa parte deles discutem os enredos de tramas de outras mídias, como televisão, games ,etc. Isso não significa que as experiências sociais e corporais, físicas fiquem em detrimento. Pelo contrário, a estrutura complexa de algumas narrativas como games e séries (Lost por exemplo) trazem o desejo da busca por pistas e descobertas também no ambiente off-line, e podem ser catalizadoras de socialização).
– A transmídia permite que a audiência tenha um papel ativo no processo de contar histórias. E deve sempre ser ouvida.
– Segundo Nuno Bernardo, os motivos que promovem o engajamento da audiência são prêmios, recompensas, diversão e status. Esses prêmios, recompensas e aumento do status em uma comunidade que discute um determinado produto audiovisual, por exemplo. A descoberta e o ato de decifrar pistas em relação aos rumos da narrativa são uma espécie de recompensa, bem como uma forma de aumentar o status perante os outros usuários.
O case “Retorno à Ilha de Lost” retoma, através do estudo de case, algumas características narrativas de narrativas complexas, como Lost e The Dark Knight. Segundo os apresentadores, a complexidade e o prazer ao acompanhar histórias transmidiáticas bem construídas se devem, dentre outros, a três aspectos:
– Narrativa Lacunar – Lost oferece um ciclo de omissão e revelação, dando pistas narrativas que fazem com que o espectador vá buscar respostas em outras obras, ou nos galhos transmidiáticos da séries – livros, episódios para telefones celular, games, ou obras literárias e filosóficas referenciadas na série televisiva. Além disso, atentaram para a “importância do suspense e da curiosidade”, “personagens dúbios”, “narrativa moldável, permitindo envolvimento e engajamento”
– Identificação – “elementos da narrativa que possibilitam projeção/identificação do público” com a história”; por exemplo através dos personagens e seus conflitos internos. A repetição de padrões de complexidade na formação subjetiva dos personagens, em detrimento da antes muito usada dualidade entre personagem “bom” ou “mau” permite que os espectadores projetem suas questões e problemas nas representações da narrativa. Personagens complexos e que apresentam mudanças ideológicas e conflitos existenciais se aproximam mais da realidade do ser humano, facilitando que a projeção, ou seja, se colocar em um lugar da ficção, aconteça. Surge a identificação/apego.
– Elemento Intensificador – “são estratégias de aprofundamento do último item, a identificação do público”. Elementos intensificadores podem ser a “estética subjetiva” da câmera, o “tom confessional” do discurso dos personagens, “ações de engajamento”, como a participação do público através de ARGs (Alternate Reality Games) e a construção/exploração da história de um universo coerente.
Robert Pratten apresentou em seus slides e em sua fala formas de construção de uma narrativa transmidiática coerente. Os slides estão disponíveis abaixo:
Transmedia Storytelling: Connected and personalized [slideshare id=10546368&w=425&h=355&sc=no]
Excelente conteúdo. Obrigado,
Mário
muito diferenciado de todos os sentidos de midia já visros por mim e o melhor uma forma bem ecletica no sentido de ter varias formas de se comunicar e de tambem ser uma forma bastante direta ao publico dando mais credibilidade a novas formas de apresentaçào e a um ápice bem futuristico do já existente entre os tantos de formas já vistas de uma forma singular e bem mais direta de nossa realidade atual ao meu ver é o que realmente temos que nos globalizar ao inovador e a era transmidia veio pra inovar todos os conceito já vistos e comentados até o presente momento
Adorei o vosso blog sou estudante de Mestrado em Estudos Cinematográficos da Universidade Lusófona Portugal.
Fizemos um projeto transmedia que gostava muito de ter a vossa opinião.
http://mutter.ulusofona.pt/
http://www.facebook.com/pages/MUTTER/201415636573913
Para conhecerem melhor o grupo EraTransmidia, um grupo de estudos no tema de transmídia dos inovadoresESPM, vejam os slides da EraTransmedia (http://www.slideshare.net/rdarnaut1/groupera-transmedia8concepts) e o artigo “Era Transmidia” (http://www.revistageminis.ufscar.br/index.php/geminis/article/view/93). Paticipem das discussões no facebook: http://www.facebook.com/groups/transmidia