por Gabriel Correia
Devo confessar que, aficionado por quadrinhos, o Super-Homem nunca foi um de meus personagens favoritos. O Homem de Aço ficava ali entre aqueles super heróis que passavam despercebidos, talvez pelo exacerbado senso moralista, talvez por parecer bom demais pra ser verdade (sim, considerava totalmente plausível um Homem-Aranha ou um Batman existirem, vai entender). Mesmo assim, faço parte dessa pequena e empolgada parcela da população que está ciente que o camarada do Kansas já foi morto e ressuscitou, já casou e descasou, já teve pele azul e vermelha, e, pasmem, até cabeludo já foi, tudo ao bel prazer de editores alucinados por alguma inovação que lhes garantisse mais vendas de revistas. Assim sendo, fica difícil dissociar o parrudo e galã Clark Kent que vejo em 3D numa tela gigantesca, atravessando prédios e destruindo tudo ao redor envolto em batalhas épicas espetaculares, dos tantos que vi coloridos em páginas e páginas de gibis amarelados e papéis de boa qualidade durante tanto tempo em minha vida. E penso na mitologia por trás disso tudo, aquela específica dos quadrinhos, amálgama de literatura pulp e grandes heróis da antiguidade clássica, curtida a base de leituras e releituras durante um bom tempo no século mais alucinante que tivemos até aqui, o XX. E me sinto tranqüilo por saber que O Homem de Aço, de Zack Snyder, é apenas mais uma versão em mais um universo, dentre tantas outras e tantos outros possíveis. Apenas outra variação sobre o mesmo tema, e uma das boas, daquelas que mantém a essência do personagem enquanto o introduzem em um novo contexto. Em alguns momentos o filme pode parecer exagerado, principalmente em sua segunda metade quando extrapola em explosões e destruição incessantes, mas no caso deste filme não consigo pensar em solução melhor para ilustrar a dimensão épica que a história pede. No saldo final, a retomada da franquia do Super-Homem se aproxima da representação que Grant Morrison trouxe na série em quadrinhos Superman All Stars. Como lá, Snyder e companhia reverenciam sem abrir mão da inovação, e assim se inserem com louvor na galeria de grandes contadores de histórias do Super-Homem.
Coluna publicada originalmente na edição impressa do Jornal Primeira Página de São Carlos em 19 de Julho de 2013.
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