por Gabriel Correia
Alguns filmes merecem um olhar mais cuidadoso e generoso simplesmente pela coragem, ousadia, ineditismo na proposta. Filmes que não necessariamente tem o aporte financeiro necessário para que os departamentos de marketing os coloquem em posições de destaque entre os lançamentos, ficando restritos a poucas, escondidas e especializadas salas em cinemas de São Paulo e no Rio de Janeiro. Filmes assim chegam a ser lançados no Brasil alguns anos após estrearem em seus países de origem, e algumas vezes, como em Juan dos Mortos de Alejandro Brugués, correm o risco de passarem despercebidos apesar de qualidades inquestionáveis. Juan dos Mortos, em exibição somente na capital paulista até o momento, investe no cinema de gênero num contexto não muito comum, o de países fora do eixo EUA-Europa, e triunfa magnificamente. No enredo, uma invasão zumbi toma conta de Havana, capital cubana, dando início a uma sucessão de eventos que dialogam com o gênero, hora numa chave paródica, hora canônica, mas sempre mantendo o tom cômico e buscando momentos de inovação. Juan, o protagonista, reúne sua trupe de freaks carismáticos e, num primeiro momento, resolve lucrar com a invasão, criando um serviço de extermínio de zumbis cujo slogan já pode ser considerado das grandes frases de filmes da década: “Juan dos mortos, matamos seu entes queridos”. Cria, dessa maneira, os empreendedores do fim do mundo, e mais, surgidos no seio da esquizofrenia capitalista, numa ilha isolada política e economicamente, numa das últimas paisagens que remontam a um tempo que visto agora já parece antiguidade. Brugués vai na contramão da abordagem sisuda que séries como The Walking Dead utilizam e apresenta sua versão leve, bem humorada, em certo ponto alegórica e crítica do subgênero filme de zumbis. Não que isso em si seja novidade, muito pelo contrário, Juan dos Mortos apenas retoma uma vertente dos filmes de horror que dialogavam com a comédia, mas faz isso com propriedade e rara felicidade. E mais, demonstra por A mais B que o cinema de gênero é universal e pode ser feito com qualidade em qualquer lugar do mundo. Que venha o Juan dos Mortos brasileiro!
Coluna publicada originalmente na versão impressa do Jornal Primeira Página em 28 de Junho de 2013.
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