Na última terça-feira, 24 de abril, ocorreu a primeira mesa do Ciclo de Debates GEMInIS. O encontro, realizado na sala 11 do DAC (Departamento de Artes e Comunicação) contou com a presença do Prof. Dr. João Carlos Massarolo (coordenador do GEMInIS/UFSCar), que mediou a mesa, da Profa. Ana Sílvia Couto de Abreu (DEME/UFSCar), a pesquisadora doutoranda em Artes Visuais no departamento de Multimeios da Unicamp Maira Gregolin e André Sanches (GEMInIS/CCS/UFSCar).
O Prof. João Massarolo salientou a importância das características do Capitalismo Cognitivo, em que o capital simbólico é o fator principal de movimentação da economia. Dentro desse cenário, as indústrias da produção de conteúdo, como a moda, o jornalismo, o design, a produção audiovisual, são capazes de criar bens culturais que movimentam a economia de cidades. Aliadas às inovações tecnológicas, o capital simbólico pode transformar e integrar cidades até então fora do circuito econômico globalizado. As cidades digitais (aquelas em que há o acesso à internet de forma gratuita e livre) têm o potencial de se tornarem cidades criativas, na medida em que seus habitantes podem exercer suas capacidades inovadoras e divulgar suas criações através da rede em seus mais diferentes suportes. (Uma dona de casa que produz roupas de tricô e não tinha possibilidade de mostrar suas produções pode atingir um público consumidor maior. O mesmo acontece com outros setores da economia). João salientou que para que haja a produção de inovação, seria ideal a construção de incubadoras de conteúdo: semelhantes às incubadoras de pequenas empresas de tecnologia em cidades como São Carlos. A convergência entre o capital simbólico e o capital tecnológico, portanto é capaz de produzir inovação e transformações no mercado.
A Profa. Dra. Ana Sílvia utilizou a Análise do Discurso francesa para atentar às formas de distribuição e desdobramento de discursos e comentários referentes às questões da propriedade intelectual e direitos. Ana atentou para as tentativas de mudança na legislação brasileira em busca de maior abertura a respeito do uso de obras e dos direitos autorais. Trazer esse tema à mesa já é uma forma de ativismo, já que a vida em uma sociedade que é marcada pela relevância dos fluxos informacionais, modelos antigos jurídicos de direitos autorais não satisfazem mais os desejos e os costumes dos usuários acostumados a imaterialidade das obras culturais e seu consumo. Resta saber se tais necessidades de modificações jurídicas acontecerão ou se a as necessidades sociais continuarão passos atrás dos artigos da constituição. Ana ressaltou que no atual estágio de algumas sociedades informatizadas o modelo estático mercadológico para o mercado cultural não existe mais: os produtores se confundem com os consumidores: ambos são capazes com o uso de ferramentas tecnológicas, de atingir determinados públicos e nichos; e a movimentação entre esses campos é facilitada e constante.
Maira Gregolin trouxe a perspectiva do ativismo digital a partir do uso dos aparelhos de telefonia celular. As potencialidades dos aparelhos inteligentes, com GPS, câmeras de áudio e vídeo e acesso à internet foram peças-chave nas revoluções ocorridas na “Primavera Árabe”, movimentação que vêm ocorrendo desde o início do ano passado em que distintos grupos oprimidos buscam a libertação de governos ditatoriais, culminando na queda de regimes como o governo de Hosni Mubarak no Egito e Muammar Gadhaffi na Líbia. Ainda que não seja possível traçar um panorama da atual situação política de tais países e que a opinião sobre as mudanças de regime e governo nesses países passem por julgamentos de valor de outra sociedade, é inevitável apontar o celular como um dos fatores que ajudou nas transformações e revoluções. A comunicação dos protestos nestes países foi organizada em boa parte através da internet em aparelhos móveis, em redes sociais como Twitter e Facebook. Parte desses governos, em meio aos protestos, cortaram o sinal de internet, e a rede de comunicação continuou a funcionar através de mensagens de texto. Alguns casos emblemáticos foram destacados: o livro “Tweets from Tahrir“, lançado no ano passado, que forma a narrativa da revolução egípcia (que teve como seu palco principal simbólico a Praça Tahrir, no Cairo) através da junção e da reprodução de mensagens enviadas para o Twitter (em boa parte das vezes a partir de aparelhos celulares).
Na Síria, os conflitos entre a população e o governo de Bashar Al Assad vêm travando conflitos que resultaram em quase 10 mil mortes. Tal é a importância da organização dos protestos e a reprodução e o vazamento de possíveis vídeos dos acontecimentos que a venda do aparelho iPhone, da Apple, foi proibida oficialmente. Ainda assim, jornalistas anônimos da rede de televisão arábica Al Jazeera mostraram as contradições desses impedimentos forçados gravando um documentário sobre a situação na Síria filmado através de celulares iPhone:
André Sanches costurou os temas do debate trazendo a questão do anonimato no ativismo mostrando o funcionamento dos grupos online intitulados Anonymous. Esses grupos formados por usuários de internet do mundo inteiro se reúnem em salas de bate-papo do IRC para organizar operações de caráter ativista. O grupo se tornou conhecido pelo combate à difusão das ideias da Igreja da Cientologia. Grande parte das operações consistem em ataques de DDOS (Ataques de Negação de Serviço), é tentar derrubar os sistemas de servidor web de entidades consideradas injustas ou divulgadoras de ideologias xenofóbicas, por exemplo. O caráter rizomático e anônimo do Anonymous é mostrado pela forma de organização das células do grupo: sem uma liderança. “Todos são anônimos”. Para participar do grupo, bastam alguns conhecimentos técnicos e uso de alguns softwares nas operações. A anonimidade é representada através dos vídeos de divulgação do Anonymous: as vozes que transmitem os discursos são oriundas de programas de geração de texto, como a plataforma do Google Translate. Isso representa que não há uma voz há frente, mas sim uma voz anônima, representante de qualquer pessoa. Ainda na questão da identidade, os membros utilizam a máscara de Guy Fawkes, soldado inglês que participou de uma conspiração que pretendia assassinar o rei e destruir o parlamento no século 17. O símbolo ficou conhecido depois da publicação da graphic novel V for Vendetta (V de Vingança) por Alan Moore nos anos 1980 e sua posterior adaptação cinematográfica (James McTeigue, 2006).
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