De que ecossistema audiovisual estamos falando?
Como definir o que são espaços, locais e localidades?
Espaços são os lugares nos quais depositamos algum tipo de sentimento ou ligação semelhante ao afeto sobre eles. Neste contextos entram as mídias locativas, que, segundo Galloway, é um termo proposto por Karlis Karlins para descrever tecnologias localizadas à localização. (GALLOWAY, 2005). Exemplo: qualquer dispositivo equipado com GPS (Global Positioning System).
Lúcia Santaella atenta para que seja dada a devida atenção ao que pode ser feito culturalmente em relação às tecnologias, sejam elas locativas, comunicacionais ou audiovisuais. Ao se referir ao Manifesto Headmap, criado ainda em 1999, sugerindo conectividade e ubiquidade em todas as localidades através de location-aware devices, ou dispositivos com detecção do espaço físico, ela trata de mostrar as mudanças culturais que, nestre outro século, estão emergindo:
“O que mais me chama atenção, na leitura desse manifesto, quase dez anos transcorridos desde que foi escrito, é o intenso espírito comunitário que ele conclama como traço imprecindível para a realização das práticas locativas”. (SANTAELLA, Lúcia, p.24) – Artigo completo disponível nesse link.
Acima um trecho do Headmap Manifesto, tentando definir alguns dos parâmetros que podem ser adotados por essa “nova sociedade conectada”. Muitos outros temas são discutidos no texto de mais de 100 páginas, cuja página original está fora do ar, mas pode ser baixado em PDF aqui.
HOLODECK – O título do livro de Janet Murray faz referência a um episódio de uma das versões da série Star Trek produzida para a TV. A autora se refere à Holonovela do programa como um possível futuro nas comunicações e no consumo de material audiovisual de forma imersiva. Em tal obra, a personagem utiliza-se de tecnologias holográficas para ser personagem de uma novela provavelmente da época renascentista, onde pode realizar seus desejos inconscientes de submissão a um homem rico da época; contrapostos ao caráter de líder da nave espacial da época e mundo em que vive. Os dois se relacionam fisicamente, algo que não é possível com a tecnologia holográfica disponível – mas é uma menção que vale a pena ser discutida sobre o aspecto da criação de mundos.
“Num ponto distante da galáxia, em algum momento do século XXIV, a jovial e competente Kathryn Janeway, capitã da nave estelar Voyager, está disfrutando uma folga em suas obrigações com sua Holonovela”. (MURRAY, p.29).
O cinema holográfico já é possível?
Teoricamente, através de estudos feitos em universidades ou centros de pesquisa, sim; como mostra o vídeo acima. Entretanto, barreiras econômicas de produção e incerteza do retorno dos investimentos impedem sua realização. (Isso sem citar as mudanças, ou praticamente reconstruções das salas de exibição – ou seriam salas de imersão?). Criar vídeo em 3D muitas vezes não compensa a produção de uma obra. Uma versão holográfica teria um custo exponencialmente muito maior; mas não é uma realidade que deve ser descartada nas próximas décadas.
Estrutura Labiríntica de Mundo
As mídias locativas, misturadas com as incertezas da atualidade (e não só dela), e os aspectos lúdicos, que exigem que os seres humanos sejam “desbravadores de enigmas” desde a infância trazem uma complexidade maior ao mundo, um aspecto neo-barroco a ele. Vale lembrar que o barroco, como discutido nas principais teorias, foi criado em um momento de vazio pós-renascimento. Estudos culturais, antropológicos e psicanalíticos afirmam que vivemos em um mundo também onde o vazio impera, seja ele denominado de diferentes formas: pós-modernidade, modernidade líquida, pós-humano. Vivemos a era dos pós-x e dos vazios e por isso buscamos a ludicidade nas ferramentas tecnológicas ou isso é um aspecto inerente ao ser humano?
Como isso é refletido nas produções audiovisuais? E o que são produções audiovisuais, antes restritas a cinema, tv, música, e hoje diluídas em aplicativos e ambientes imersivos?
Referências:
MURRAY, Janet. Hamlet no Holodeck: O futuro das narrativas no ciberespaço. Editora Unesp, São Paulo: 2003.
SANTAELLA, Lúcia. “A Ecologia Pluralista das Mídias Locativas”. In: Revista Famecos, Dezembro de 2008.
Desvirtual, site de Gisele Beiguelman.
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